21 de maio de 2010

POr favor não defendam a Natureza!


-UM AMBIENTALISTA NO SÉCULO XXI: POR FAVOR, NÃO DEFENDAM A NATUREZA!

Dener Giovanini

Durante uma palestra no ano passado, na cidade mineira de Uberlândia, fiz
uma provocação à platéia: disse em alto e bom som que quem realmente se
preocupa com a natureza deveria parar de tentar defendê-la. É claro que não
dei chance para o auditório se manifestar. As reações seriam bem
previsíveis, pois eu estava ali a convite da OPA - Organização de Proteção
Ambiental, uma entidade reconhecida por sua forte atuação na defesa
ambiental. E a dita platéia, cerca de 150 pessoas, era em sua grande
maioria, formada por ativistas da instituição. Assim que comecei a perceber
que, subitamente, os assentos das cadeiras começaram a incomodar as pessoas,
entendi que quem iria precisar de proteção naquele momento era eu.
Socorri-me chamando à frente o presidente da organização, Juscelino Martins
que, além de ser um dos mais respeitados empresários desse país, é uma
daquelas pessoas que impõe a sua presença através das suas credenciais como
ambientalista de visão arrojada e sensata. Com
ele ao meu lado, senti-me mais seguro para explicar aquela frase espinhosa
que eu tinha acabado de jogar sobre a platéia.

A razão que temos para não defender a natureza é muito simples. Não podemos
defender quem é mais forte que nós! E citei, naquele momento, um exemplo
prátic quem ali se sentira à vontade para aceitar o cargo de segurança do
Michel Tyson? Como você pode querer defender alguém ou algo que é muito mais
forte que você?

Eis ai a chave que talvez abra a porta de um novo mundo. Uma nova
compreensão do que de fato somos e do que representamos na complexa
engrenagem da vida sobre esse planeta.

A nossa essência humana é dominadora. Em nossa história evolutiva sempre
buscamos dominar povos e culturas. De uma forma ou de outra, em nossas
relações pessoais ou nas relações entre as nações, invariavelmente buscamos
impor a nossa individualidade e, principalmente, a nossa mentalidade de
conquistador, de senhores da razão.

E assim sempre foi a nossa relação com a natureza. O ser humano sempre
enxergou a natureza como uma coisa menor que ele. Mais fraca. Menos
importante. O meio ambiente sempre foi um desafio a ser vencido.
Conquistado. Repetimos com a Mata Atlântica a relação que os nossos
colonizadores mantiveram com os índios que aqui encontraram. Num primeiro
momento tentou-se torná-los úteis aos anseios conquistadores. Subjugá-los a
força era a meta. Como a prática mostrou-se complicada, passou-se ao plano
B: eliminá-los. Da floresta inicialmente também se buscou torná-la útil,
extraindo o que fosse possível. Como da carcaça que dela sobrou também nada
mais se aproveitava, o passo seguinte também foi eliminá-la.

E assim continuamos soberanos em nossa missão de dominar o mundo. De impor a
nossa presença. De reinar sobre tudo e sobre todos.

Na história recente do mundo multiplicaram-se os defensores do meio
ambiente. Surgimos - e aqui me coloco entre eles - como surgem os irmãos
mais velhos quando entram numa briga para defender seu irmãozinho ameaçado.
Ficam lá, de um lado o ameaçador, de outro o defensor, e no meio a natureza.
Mesmo inconscientes, nós ambientalistas, estamos reproduzindo o padrão
comportamental que deveríamos combater. Nós também enxergamos o meio
ambiente como algo fraquinho e frágil, que precisa da nossa "ajuda" para
sobreviver. Não compreendemos ou não enxergamos que a nossa própria atitude,
gestos e atos apenas reforçam a idéia de que somos supremos em nossa
existência sobre a terra. Amplificamos com as nossas palavras o conceito de
dominação ancestral do homem sobre a natureza.

O momento atual nos exige uma reflexão profunda. Um mea culpa.

Está na hora de mudar o discurso de irmão mais velho. Vamos entrar na briga
sim, mas para dizer: olha, se você se meter com o meu "irmãozinho" você vai
se dar muito mal, pois ele é violento, perigoso, tem três metros de altura e
está armado até os dentes. Enfim, mudar a nossa postura de supremacia diante
da natureza e adotar um comportamento inteligente. Entender de vez que a
natureza não precisa da nossa defesa. Reconhecer com humildade a sua força e
poder. Colocar-nos em nosso devido lugar. Compreender que o fraco nessa
história somos nós, humanos.

Comprar uma briga com a natureza é de uma extrema burrice. Achar que a
controlamos ou que a dominamos é talvez um dos maiores erros que a
humanidade já cometeu. Seremos varridos da face da terra com a mesma
facilidade que limpamos a sujeira que nos incomoda em nossa casa: com água,
com vento ou com calor. No fundo devemos apenas compreender que essa briga
já está ganha. E não por nós.

Um dia conseguimos superar a nossa "guerra fria". Agora é a vez da "guerra
quente". Só que os protagonistas não são apenas dois países disputando entre
si quem tem mais poder de fogo. A peleja agora é outra. Somos nós contra o
planeta. É uma espécie contra milhões. É a luta de quem produz fumaça contra
quem detém vulcões.

A partir de hoje eu não quero e não vou mais defender o meio ambiente. Vou
apenas temê-lo e por isso, respeitá-lo. Vou tentar entender o que a natureza
está dizendo e buscar difundir suas palavras que, se pudessem ser
materializadas, soariam mais ou menos assim:

RESPEITE-ME. POR QUE RESPEITO É BOM E EU GOSTO!

*Dener Giovanini é ambientalista e coordenador geral da Renctas.
Fonte: O Eco._,___

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